sexta-feira, 2 de março de 2018

Respostas padrões aos ditos “crentes” - 1


Habitualmente, na nossa cultura, os ditos crentes são os ditos - até por eles mesmos - “evangélicos”, e com certa arrogância própria de seu comportamento “cristãos” (como se fossem os únicos realmente isso). Dependendo de seu comportamento um tanto irritante, são o que a gíria de certos círculos já consolidou com o termo ‘crentelho”.

sociedade olho de horus - Blogspot

Devido a seguidamente haver certas argumentações nas redes sociais, e tais serem praticamente sem exceção repetições de certos pontos (algo característico da mente fundamentalista), segue uma listagem básica, que temos certeza, pode ser longamente ampliada:

1) O Jesus histórico não é "deus", indiscutivelmente.

2) O Jesus histórico não é (propriamente) negado pela História.

3) O Jesus "mítico" sequer é tratado pela História, nem lhe interessa.

4) Ter existido Jesus, mesmo o mítico, ou mesmo existir uma divindade consciente não implica em o universo ter surgido como afirma a Física, que jamais afirmou que ele tenha surgido de um "nada absoluto".

Aliás, isso é uma repetitiva afirmação de pessoas leigas em Cosmologia e na Física relacionada e o que ela afirma.

5) Negar a evolução do universo a partir de um estado máximo de temperatura e densidade, hoje, é "suicídio intelectual", para dizer o mínimo.

6) Negar a evolução dos seres vivos ou afirmar seu fixismo, e pior ainda, seu surgimento miraculoso é um suicídio intelectual mais dolorido que o descrito em (5).

Consequente: Afirmar “Terra Jovem” ou “Tempo Bíblico”beira insanidade do nível de “Terra Plana”, ainda que com melhor lustro.
7) Não se prova a inexistência de coisa alguma. Quem afirma a divindade, o Jesus "mítico", o surgimento das coisas miraculosamente, seja do universo, seja de uma barata, que o tem de demonstrar por evidências.

Portanto, 7 pontos até subdivididos para crentes pararem de escrever tolices afirmadas como “Filosofia” ou “Ciência”, quando na verdade não dominam nem no básico destes campos do conhecimento.

Agora, tratemos mais detalhadamente de cada ponto.

1

O Jesus histórico não é "deus".

Tal ponto quando afirmado, tipo “Jesus é deus”, não é coisa alguma além de um dogma pssoal e/ou de grupo, e portanto, pode ser amplamente questionado, criticado e mesmo, racional e solidamente, negado.

Digamos que tenha havido, por diversas provas documentais e arqueológicas inquestionáveis, um certo líder religioso chamado Jesus, filho de José e Maria, nascido em Belém (até nomes de pai e mãe, ou mesmo a cidade de nascimento, não são necessários ao argumento).

Este personagem inquestionável, talvez amplamente descrito em alguma documentação romana, muito provavelmente a mais confiável de seu tempo, não implica em ser relacionada com uma divindade criadora e controladora do universo.

Isso é uma questão de fé pessoal e de grupo, até com certo aspecto histórico, como bem mostra a limitação do cristianismo em todas suas vertentes como fé orientadora de uma boa parte da humanidade durante muito tempo.

Tanto que já ao seu tempo de consolidação na Europa e arredores do Mediterrâneo, a afirmação que a pessoa de Jesus ser correlata com a divindade não era propriamente homogênea, vide as diversas heresias até de grande número de adeptos, ou ainda, o próprio judaísmo e o islamismo, de forte influência judaica em diversos pontos, com longa convivência com um cristianismo ainda em maturação.
Logo, se crê como certo cristão (dentro de certas definições do termo) que “Jesus seja deus”, mas não se pode afirmar isso como uma verdade universal, a todo os humanos, o que pode ser estendido a qualquer afirmação de cunho religioso. Por exemplo contrário, dentro desta família de afirmações religiosas, dentro do Budismo em certas vertentes, não há qualquer divindade personalizada, e portanto afirmar que um líder religioso de certa época seria também uma divindade absoluta do universo não teria qualquer nexo.
Mesmo com claras influências o Zoroastrismo e do Budismo no Cristianismo, é evidente que nenhuma destas duas mais antigas religiões não coloca seus personagens chave, Zoroastro e Sidarta Gautama, como elevados à divindades absolutas do universo, sequer “deuses”, aliás, o que dentro daquelas específicas teologias, repetimos, sequer teria sentido.

Já o Brahmanismo, mais antiga das grandes religiões, também não veria em seus devotos nexo em um homem ser o único deus, sendo esta uma religião politeísta numa certa análise,  não tendo nexo Brahman, “aquele que tudo compõe”, incluindo os deuses em “posições secundárias a este”, ser distinto num homem ou numa folha sobre seu ombro, ou ainda numa formiga sobre esta folha. Tal divindade tão transcendente, de difícil entendimento para os ocidentais e boa parte das fés oriundas do Oriente Médio, como são as religiões abraâmicas, não poderia portanto ser limitada num momento a ser uma pessoa, seja quem for, nem apenas nela ter se manifestado.

Destaque-se que para o Islamismo, Jesus é um profeta, mas apenas isso, e para o Judaísmo, até um pensador religioso de algum valor na opinião do rabinato, mas jamais seu “messias”. Para o Budismo, o Brahmanismo, o Confucionismo não é alguém além de poder ser citado como dotado de bons ensinamentos, nada mais. A fé em “Cristo”, apenas ao cristão interessa, este é o mundo, apenas lamento.


2

O Jesus histórico não é (propriamente) negado pela História.

Esta afirmação pode ser tratada por dois flancos:

a) A afirmação científica por própria natureza

b) Uma abordagem de História ‘per se

Em (a) , Ciências não afirmam como inexistente alguma coisa, o tão citado “bule de Russel” já é solução quanto a isso, e mesmo ciências sem características tão “popperianas” (de Karl Popper) como as ciências históricas, incluindo a própria História (um tanto diversas, evidentemente, da Arqueologia, diretamente relacionada, e Paleontologia, que opera com outros objetos, tem outros objetivos e doutra escala de tempo) nega algo como tendo sido inexistente, como, por exemplo, um encontro de algum emissário chinês com Alexandre, O Grande, em proximidades do Rio Indo, ou ainda, uma expedição romana, aos tempos de Jesus à regiões do extremo sul da África.

Estes “eventos históricos”, e poderíamos afirmá-los em infinidade, podem ser conjecturas, hipóteses um tanto vagas, ainda que de forma alguma absurdas, mas jamais serão afirmadas - propriamente - por um historiador como jamais tendo ocorrido, assim como qualquer pessoa afirmada como jamais tendo não existido. A limitação da linguagem, quando numa ciência diz “não existe”, afirma na verdade, à mais profunda análise, que “jamais foi obtida qualquer existência de tal fato” (ou existência de certo personagem).

Assim, podemos resumir que a História não afirma “não existiu”, mas afirma “jamais evidenciou-se documentação ou “pistas” sobre sua existência” (como artefatos).

Como exemplo, afirmamos o escultor grego Fídias, não apenas por sua estatuária (sendo que as mais lendárias, como o  Zeus de Olímpia, não existem mais), jamais pelos relatos literários e tradicionais de sua vida, mas por artefatos marcados com seu nome (entre outras coisas).

Daqui, se toma (b), pois a História necessita, especificamente, de documentação, e num nível mais profundo no tempo e de menor presença do que se considera documentos, os objetos da Arqueologia, como artefatos, grafias (ainda que propriamente não plenamente inteligíveis) e cruzamentos com peças literárias como a poesia, destaque-se o caso de Tróia e as diversas narrativas em poesia da guerra envolvendo a cidade.

Deste ponto (b) a História não negará que tenha havido um Jesus na Judeia, mas o defenderá quando forem encontrados artefatos ou documentações específicas (não textos religiosos, que seriam de outra natureza como “documentação”) que sustentem sua existência.

Por certa analogia didática, afirmar que Jesus não existiu, para a História, seria como a Zoologia afirmar que jamais existiu um ungulado similar ao cavalo com um chifre único em sua testa, um unicórnio. Ela apenas afirma que não temos qualquer evidência concludente de sua existência, o que nos leva ao outro ponto.

Tal como na Filosofia, nas ciências, das mais “duras” às mais flexíveis em sua própria lógica, vale o “quando não sabemos, melhor calar”. Continua...
Recomendações de leitura

Historical Jesus -en.wikipedia.org

O que a história tem a dizer sobre Jesus - veja.abril.com.br

Fabrício Veliq Barbosa; A RELAÇÃO ENTRE O JESUS HISTÓRICO E O CRISTO DA FÉ NO PENSAMENTO DE JOSEPH RATZINGER; Dissertação de Mestrado em Teologia; Belo Horizonte - MG; FAJE – Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia, 2014 - www.faculdadejesuita.edu.br

Nenhum comentário:

Postar um comentário